terça-feira, 6 de julho de 2010

Sasquatch!

Posto agora um review do show do Beat Crusaders no festival Japan Jam 2010, realizado no Fuji Speedway no dia 15 de maio.

Publicado originalmente no blog Iwata Kappuru


Sou apaixonada por música. Quero dizer... não por música em geral, mas sim pelo rock, principalmente o punk e suas vertentes (ska punk, pop punk etc). Cheguei até a arriscar tocar baixo em uma banda só de meninas punks, em minha adolescência rebelde. Meu marido também teve banda e toca guitarra e violão até hoje. Como diz a música パンク・ロック (Punk Rock), do ザ・ブルーハーツ (The Blue Hearts, lendária banda de punk rock japonesa), 僕 パンク・ロックが好きだ(boku panku rokku ga suki da = eu amo punk rock! ^o^). Também adoro bandas japonesas, muito antes de inventar essa aventura doida pelo Japão. Mas um grupo em especial, formado por cinco japinhas mascarados, roubou meu coração há pelo menos três anos. Desde então, sou viciada nos caras; o Akio (meu marido) não aguenta mais me escutar  ouvindo sempre as mesmas músicas e revendo o blu-ray deles milhões de vezes, sem nunca enjoar! Viver no país de origem deles sempre pareceu um sonho distante, mas acabou acontecendo. Ir a um show, ver suas expressões faciais, enxergá-los bem de pertinho, sentir toda a energia do quinteto, estar em sintonia com eles, parecia impossível... mas aconteceu! Para ser mais exata, dia 15 de maio, no circuito Fuji Speedway, no festival Japan Jam, show do Beat Crusaders, os únicos gaikokujins do evento. Sim! O Iwata Kappuru estava lá!




Quando soube que minha banda favorita se apresentaria pertinho de casa (não tão perto assim, mas bem mais do que onde costumavam tocar!), não pensei duas vezes para repetir essas duas palavras: EU VOU! Logo contei ao Akio sobre meu desejo e, claro, ele concordou. Compramos os ingressos (8,500  cada, cerca de 85 dólares) pela internet e pagamos no konbini Seven Eleven. Tudo lindo e maravilhoso, afinal, o passaporte para o paraíso estava em minhas mãos! Restava saber COMO realizar tal façanha. De que forma chegaríamos ao pote de ouro no fim do arco-íris?

Ingressos do Japan Jam 2010! Sugoooooi! *o*

O marido mais perfeito do mundo se encarregou dessa tarefa. Com ajuda do site Hyperdia, traçou rotas por trem e por shinkansen, saindo de Iwata e tendo como destino a cidade de Gotemba. Vimos qual compensava mais e, apesar de mais caro, a princípio optamos pelo trem-bala, afinal, não queríamos chegar atrasados de jeito nenhum. Os portões abririam às 9:00 am, o show começaria às 11 am e a formação da fila... sabe-se lá quando. Já visualizávamos uma extensa fila, com milhares de pessoas acampando e lutando contra o severo frio que faz no circuito. Só que o primeiro shinkansen desse dia sairia às 6 am de Hamamatsu! Não dava tempo! E agora?!

"Que tal irem um dia antes e se hospedarem em um hotel lá perto?", nosso amigo Júlio, veterano de Japão e de shows, deu a tentadora sugestão. Fazia sentido! Como não pensamos nisso antes?! Então lá fomos nós em mais uma empreitada: procurar hotéis baratos nos arredores de Gotemba, o ponto mais próximo do isolado circuito. Com uma rápida pesquisa no Google, logo achamos o hotel perfeito: Senraku Business Hotel, com uma diária pela bagatela de 8 milão, por casal. Uma verdadeira pechincha! Ligamos e reservamos o hotel na hora. Tivemos muita sorte, pois a atendente falava inglês e ainda havia quartos disponíveis. やった!(Yatta! = significa, literalmente, "eu fiz!". Os japoneses dizem isso quando conseguem ou comemoram alguma coisa... kawaii desu ne! ^_^)

No dia 14, ao sair do trabalho, corremos o mais rápido possível em direção ao ponto de ônibus que leva à estação de Iwata. Lá, compramos o キップ (kippu = bilhete de trem) para a estação de Shizuoka, onde faríamos baldeação para Numazu, e de lá, para Gotemba. Foi uma longa viagem, de quase 3 horas, bastante cansativa. Não havia absolutamente nada para fazer, o que acabou sendo bem proveitoso, pois observamos melhor os 日本人 (nihonjin = japoneses). Foi bem engraçado reparar que os japoneses odeiam ficar à toa ou olhar uns para as caras do outros: alguns dormiam (de boca aberta e tudo!), outros liam um livro ou uma revista, e a maioria mexia no celular (90% da população japonesa que possui celular assina plano de internet móvel). Mas nós éramos os únicos desocupados que olhavam a paisagem correr pela janela!

Gotemba eki desu! ^o^


Ao chegar em Gotemba, estávamos completamente mortos de fome. Paramos no McDonald's em frente à 駅 (eki = estação) e fomos recepcionados por outros 外国人 (gaikokujin = estrangeiro), americanos. Papo vem, papo vai, nossos lanches ficaram prontos e fomos embora correndo. Apesar de termos estudado a fundo a localização exata do hotel no mapa antes de sair de casa, nos perdemos! As ruas do Japão são todas parecidas, padronizadas, um verdadeiro labirinto! Uma fina garoa caía. Meu desespero era evidente. E agora?

Andamos, andamos e andamos. Não havia nenhum comércio aberto. Estava tudo muito escuro e silencioso. Até que avistamos a luz no fim do túnel: um pequeno restaurante 24 horas no meio do breu! Entramos, pedindo すみません (sumimasen = com licença), e perguntamos onde ficava o Senraku Hoteru. O simpático e prestativo casal japonês que ainda trabalhava tarde da noite nos explicou que ficava bem ao lado, só alguns passos à frente. Agradecemos e seguimos viagem. O arco-íris estava pertinho de nós! やった!

Senraku Hoteru desu! ^_^

Passamos a noite no hotel e pela manhã, às 7 am, pegamos um タクシー (takushii = táxi) até o Fuji Speedway. Era bem cedo, não havia trânsito e muitas pessoas fotografavam o glorioso 富士山 (Fuji-san = Monte Fuji). O céu estava nublado, mas era possível visualizar o Fuji bem pertinho! Enorme! Branco! Maravilhoso! Deslumbrante! Nunca havíamos visto algo tão magnífico assim! É o mais perfeito cartão-postal do Japão!

O Iwata Kappuru estava láááá na frente, antes desse pessoal todo! *o*

Dois mil e quinhentos ienes mais tarde (cerca de 25 dólares, por mais ou menos 20 minutos de corrida de táxi), chegamos ao circuito. O local é composto pelo mais puro verde. Só são vistas árvores, flores, pássaros, plantas, mato, insetos. E no horizonte, montanhas até onde a vista alcança. Não há prédios, casas, nenhum traço de civilização. O ar puro do lugar nos relembrou de imediato do nosso primeiro dia no Japão, onde o forte cheiro do ar nos fez ter a certeza de não estarmos mais em solo brasileiro. Naquele momento, só havia os organizadores do evento e alguns poucos carros chegando. Subimos um extenso caminho verde até chegar à fila, onde havia uma meia dúzia de pessoas aguardando. やった! Conseguimos! Somos os primeirões!

Liberta Stage! ^o^

Às 9:30 am, os portões foram abertos e começava a distribuição de wristbands (pulseiras de identificação). Todos foram em direção ao Mobilitas Stage para assistir a primeira apresentação, enquanto nós e mais alguns BECR maníacos corremos em direção ao Liberta Stage, onde a banda se apresentaria horas mais tarde. Ansiedade e mais ansiedade. Tremendo sem parar. O coração dava pulos. Borboletas rodopiando em meu estômago. Em algumas horas eu veria meus ídolos tocando!


SASQUATCH! 

Cinco malucos mascarados invadem o palco do festival Japan Jam 2010, montado no circuito Fuji Speedway. Eles dançam, pulam, fazem mímicas, correm, improvisam uma coreografia sem noção, se divertem. Quando a música pára, posam cada um a sua maneira, seja fazendo o tradicional V da vitória que os nipônicos tanto veneram ou cobrindo as partes íntimas do colega. A plateia vibra, grita seus nomes, berram em histeria. Em seguida, o ápice da apresentação: suas máscaras são arremessadas em direção aos fãs, uma a uma! O mistério em torno de seus rostos é encerrado ali! Todos se esticam o máximo que conseguem para levar um pedacinho dos músicos para casa. Todos querem pegá-las, guardá-las de recordação, ou até mesmo leiloá-las no Rakuten*. Os cinco rapazes da terra do sol nascente pegam seus instrumentos e saúdam os presentes. ようこそ! (Yokoso! = bem-vindos!). E, assim, começa mais um espetáculo da excêntrica banda de j-punk ビート・クルセイダース (Bīto Kuruseidāsu = Beat Crusaders)!

ビークル (Biikuru, no Japão é comum abreviar o nome das bandas) surgiu em 1997 com outra formação, mas hoje é composto por ヒダカトオル (Hidaka Toru, vocalista e guitarrista), クボタマサヒコ (Kubota Masahiko, baixista), カトウタロウ (Kato Taro, guitarrista), マシータ (Mashita, baterista) e ケイタイモ (Keitaimo, tecladista). As músicas são cantadas em inglês, mas há algumas em 日本語 (nihongo = idioma japonês) e até em alemão (como o cover de 99 Luftballoons, sucesso da banda Nena, na década de 1980, em plena Guerra Fria).


Apesar de falarem inglês muito bem (se comparados à maioria da população do Japão), o forte sotaque japonês acaba falando mais alto ao pronunciar certas palavras, como single, que soa como shingle, ou flies, que por vezes sai como fries (o que dá um sentido completamente oposto! Flies é voa, e fries é frita!). O fenômeno engrish, tão comum na boca dos orientais, é facilmente explicado: o idioma japonês é pobre foneticamente falando. Não existem os fonemas SI e nem LI, que são trocados por  (shi) e  (ri), respectivamente. E não existem letras isoladas como em nosso alfabeto, com exceção das vogais e do caractere  (n). É daí que surge a dificuldade dos japoneses e outros povos asiáticos lidarem com as línguas estrangeiras, portanto, não os condene! Mas, devido à grande influência ocidental no arquipélago, eles inventaram o silabário katakana, para traduzir e adequar as palavras estrangeiras ao idioma nipônico. Como exemplo, o nome da banda é pronunciada Biito Kuruseidaasu! E o próprio nome deste blog, カップル (kappuru = pronuncia-se com uma pequena pausa antes do p), veio do inglês couple (casal)! Assim acontece com uma infinidade de palavras, como テレビ (terebi = televisão), ベッド (beddo = cama), ペット (petto = animal de estimação), アパート (apaato = apartamento) etc. Esse assunto é extenso e merece um post exclusivo, aguardem! XD

Mas, na minha opinião de fã, é isso que dá todo o charme às músicas deles! É isso que caracteriza a banda! É tão かわいい (kawaii) ouvi-los falando as palavras com a língua presa! Isso os torna únicos, inigualáveis, incomparáveis! *_____*

Em fotografias, publicidades, aparições na TV e em PVs (promotional videos = é a maneira pela qual são conhecidos os vídeo-clipes no Japão), os integrantes da banda usam máscaras que ocultam seus verdadeiros rostos. E já deixo uma dica: não adianta tentar dar uma de esperto e procurar no Google beat crusaders without mask, pois perderá seu tempo, não encontrará absolutamente nada (acredite, eu já cansei de procurar com diversas palavras-chave, inclusive em 日本語).


As máscaras, sem querer, funcionam como uma jogada de marketing: eles só as tiram nos shows! Então só quem comparece às apresentações ao vivo consegue vê-los sem elas, o que acaba sendo um grande incentivo para os fãs comparecerem aos eventos da banda, afinal, todos querem saber como os caras são de verdade! É um diferencial, quase um bônus: pule, cante, divirta-se e ainda veja-os sem máscaras! Nos dias atuais, com o advento da internet e a popularização das redes de compartilhamento, as bandas e as gravadoras não conseguem mais lucrar com o lançamento de CDs e DVDs, pois tudo o que cai na rede é peixe. Dessa forma, os shows acabam sendo as maiores fontes de lucro. E os caras tirando as máscaras significa maaaais お金 (okane = dim dim, $$, verdinhas, grana, money, dinheiro)!

Entretanto, a ideia toda das máscaras surgiu quando eles trabalhavam em uma gravadora onde não podiam mostrar os rostos. Não podiam se identificar, ninguém podia vê-los. Quando montaram a banda, decidiram levar adiante as máscaras, o que acabou virando a marca registrada deles. Segundo eles, a vantagem de se usar máscaras é que a privacidade é mantida, afinal, ninguém pode reconhecê-los nas ruas da agitada 東京 (Tokyo), "e é possível alugar filmes pornôs sem ninguém ficar sabendo, é claro"! Assistam o vídeo no qual os integrantes falam um pouco sobre isso:



Mesmo os ビークル sendo idênticos às máscaras que usam - sim, posso garantir que eles são completamente honestos em relação a elas! -, não é tão fácil imaginar os rostos que existem por trás delas. E elas não sofreram alterações ao longo dos tempos, ou seja, há 10 anos os integrantes eram daquele jeito, mas hoje estão um pouco diferentes, com outro estilo de cabelo e um pouco mais velhos. Mas as fisionomias são exatamente as mesmas das 仮面 (kamen = máscaras). O que mudou? Bem, a franja de Toru-chan** deu lugar a um moicano, e isso já faz um tempão. Os cabelos curtos e pretos de Taro-chan agora são madeixas compridas, escorridas e com as pontas descoloridas, mas houve épocas em que suas melenas eram loiras, extremamente oxigenadas, e super bagunçadas, rebeldes e malucas. Masahiko-chan hoje usa óculos, o que eu já havia percebido no blu-ray Oh My ZeppMashita-chan está sem barba e com o cabelo menos volumoso, mas não sei se adotou o estilo, ou se o barbeador quebrou no dia do show ou se usou outro tipo de shampoo. No entanto, o único membro 100% fiel à máscara é o tecladista Keitaimo-chan, que continua com sua marca registrada: óculos, barba e trancinha no cabelo. 

Cada um dos integrantes possui uma personalidade distinta e marcante. Toru-chan, visivelmente o porta-voz do grupo, é comunicativo, cheio de estilo e energia, além de preocupado com o entretenimento da plateia, perguntando sempre みんなさん!楽しいですか? (Minna-san! Tanoshii desuka? = Pessoal! Estão se divertindo?). É normal Toru-chan parar de tocar a guitarra para apontar para cima, bater palmas ou fazer outros gestos durante as músicas, o que mantém os fãs ritmados. Super estiloso, está sempre usando seus óculos de armação grossa e preta, um anel no dedo do meio da mão esquerda e suas roupas são as mais descoladas: uma camiseta de banda, ou uma camisa xadrez, um tênis de cano alto, ou um tênis de skate, uma calça larga ou uma bermuda colorida (no caso deste festival, verde).  かっこいい! (kakkoii = é o equivalente masculino de kawaii. Pode significar bonito, legal, estiloso, bem vestido, simpático, elegante etc). (。◕‿‿◕。)

ヒダカトオル *o*

Masahiko-chan, o típico japonês tímido, faz a maior parte dos backing vocal da banda, mas falava pouco e agitava os fãs ao parar de tocar o baixo. Tem uma postura mais elegante, e no festival estava vestindo uma camisa meio branca, meio cinza, de mangas longas, e uma calça escura. Mas seu melhor figurino de todos é o do dorama Pretty in Pink Flamingo, um look mais rebelde, sem perder a pose elegante! (≧ω≦)

クボタマサヒコ *o*

Como sempre há um integrante completamente insano em toda banda, Taro-chan faz este trabalho como ninguém, com suas caretas ora cômicas, ora assustadoras. Era divertidíssimo observá-lo, pois a cada momento ele estava fazendo algo completamente diferente com suas expressões faciais. Com certeza é o membro de banda mais doido que já vi! E, na minha opinião, é o ビークル que mais vale a pena ver sem a máscara, pois só ao vivo você pode vê-lo fazer essas coisas. Nos DVDs e vídeos disponíveis no Youtube, a censura cobre todo o freak show

カトウタロウ *o*

Apesar de ser conhecido por se vestir como o guitarrista Angus Young da banda AC/DC, no show estava vestido com seu novo cosplay, um macacão todo estampado com as cores e listras da famosa guitarra de Eddie Van Halen, a Fender EVH Frankenstein. ヽ(´▽`)/

Angus Young cosplay...

Eddie Van Halen cosplay! XD

O baterista geralmente fica escondidinho atrás de seu instrumento, mas Mashita-chan quebra este paradigma e se destaca com suas batidas de homem das cavernas. Mashita-chan vestia seu já consagrado uniforme, o mais simples e usual possível: uma bermuda bege com suspensórios laranjas, sem camisa. Mesmo com o frio que fazia no circuito, ele parecia com calor. A bateria definitivamente é o instrumento que mais faz suar! Quem nunca viu um baterista pingando de suor?! São movimentos ágeis das mãos, dos braços, das pernas, são pancadas fortes nas notas certas, é a empolgação e a sensação de liberdade e pura anarquia ao pegar nas baquetas.  ロックンロール (rokku n rooru rock and roll)! 

マシータ *o*

Como o teclado não é utilizado o tempo todo nas músicas, Keitaimo-chan se diverte ao inventar passos malucos para a multidão não perder o ritmo. Suas coreografias são puro improviso, mas afloram sua personalidade divertida e alegre, o que acaba por contagiar todos os presentes. Keita-chan sempre usa roupas esportivas, mas o figurino dele deste show se superou: conjunto completo da ADIDAS! Roxo! Minha cor favorita! Simplesmente かわいい (kawaii) aquele agasalho, aquela calça, que invejinha! Por enquanto só posso me contentar com minha blusa branca e preta da marca... mas um dia eu consigo um conjunto igual ao dele! E autografado, quem sabe?! O(≧∇≦)O

ケイタイモ *o*


Rakuten (楽天) é o Mercado Livre japonês. É um site no qual há milhões de coisas à venda, leiloadas ou não, usadas ou novas, de CDs à TV 3D. Tem de tudo! Nós já compramos cortinas, jogos, CDs, DVDs e até móveis pelo site. Os preços são melhores do que em lojas físicas. É tudo em japonês, claro, mas se você souber ler no mínimo katakana e hiragana, um bom tradutor auxilia no resto. Fica a dica!

** Uso chan para me referir a eles pelo enooooorme carinho e admiração que tenho pelos integrantes! No dia do show, muitas fãs gritavam chan ao invés dos mais apropriados san ou kun, então percebi que é comum usar chan com ídolos. Mas, geralmente, chan é usado para se referir a mulheres, crianças ou pessoas muito queridas e íntimas (marido e mulher, por exemplo). Explicações mais detalhadas acerca dos sufixos em japonês serão dadas em um post em breve!  



Após o tradicional Sasquatch!, que anuncia o início de todos os shows do Beat Crusaders, a primeira música a ser tocada foi Time Flies, Everything Goes, do álbum Popdod. A melodia começa lentamente, e aumenta o ritmo depois do primeiro "EASYYY!", da primeira estrofe. Ao contrário do que se fala a respeito do público japonês, que não se mexe nos shows, a galera do Japan Jam pula, agita, grita, zoa, canta em coro e dança muito com os braços. Nunca fui a um show tão animado! Quem tocou aqui e não sentiu essa empolgação não transmitiu a energia certa ou é uma banda bem ruim! Os japoneses sabem se divertir, sim! E isso é explícito em todos os shows do Beat Crusaders. Só não rolou bate-cabeça e stage dive (erroneamente conhecido como mosh) pois eram proibidos*! Veja o vídeo de Oh My Zepp para sentir a vibração do público japonês (teve até uma galera se jogando no mosh!):



Lovepotion #9 veio logo em seguida, o que manteve a plateia animadíssima para receber seus primeiros convidados desta jam session maravilhosa: Tropical Gorilla! A banda é amiga de longa data do ビークル, o que rendeu um álbum split chamado Cell No.9. O baixista Cim aparece na maioria dos PVs do BECR (tais como Hit in the USA, Feel, Moon on the Water, Love Dischord, Chinese Jet Set e Japanese Girl), o que já o consagrou como "o gordinho dos vídeo-clipes do Beat Crusaders". Em perfeita harmonia, os 友達 (tomodachi = amigos) tocaram o hit Japanese Girl e a punkíssima Droog in a Slum, duas das seis faixas do CD split. Um dos momentos mais punks do show (ah, saudades dos bate-cabeças de São Paulo...)! (*^-^*)


Cim e Hidaka! XD

O vocalista do Tropical Gorilla, MxTxRx!

Cim, Taro-chan e RED (guitarrista do Tropical Gorilla)

Isolations, como de costume, veio emendada logo após o tradicional おまんコール (omanko = vagina, kooru = do inglês call, chamada). E sem censura, é claro! Pelo nosso paupérrimo conhecimento de nihongo, pudemos entender que Toru-chan diz algo como:  皆さんは、セックスとドラッグとロック。どれが好きですか?ドラッグはダメ。絶対。ロックは今やってるからイイよね!ことはセックスですよね!!!(Minna-san! Sekkusu to doraggu to rokku. Dore ga suki desu ka? Doraggu wa dame. Zettai. Rokku wa ima yatteru kara ii yo ne! Koto wa sekkusu desu yo ne! = Pessoal! Sexo, drogas e rock and roll. Qual destes vocês gostam? Drogas são ruins. Sempre. Rock é o que estamos fazendo agora! Sexo é o que gostamos!). A partir daí, eles dizem algo sobre ensinar uma palavra à plateia, a tal omanko. Todos os fãs repetem o palavrão, mas depois, só as meninas presentes fazem coro. Infelizmente, ainda não conseguimos entender a piada toda por trás do omanko call, mas a ideia parece ter a ver até com molestadores! Quem souber nihongo fluentemente, pode escutar essa música AQUI a partir dos 02:25 e ajudar a traduzir o que é falado. お願いします (onegaishimasu = por favor!).

Hidaka Toru-chan! *o*

O hino da Disney em versão punk, Mickey Mouse Club March, deu a largada para a maratona de covers que veio a seguir. By Chance, um digno tributo à lendária banda punk japonesa Husking Bee, chamou ao palco o ex-vocalista da banda homenageada, 磯部正文 (Isobe Masafumi). Masafumi-san também tocou e cantou o arranjo punk da melancólica e semi-folk 青空 (Aozora), dos eternos punks do The Blue Hearts

Masafumi Isobe com o BECR! ^o^

Assista os PVs de Mickey Mouse Club March (com a formação antiga do BECR) e Aozora!



Uma graciosa e miúda japonesinha aparece saltitando no meio do palco, em um mini-vestido branco, esbanjando simpatia e distribuindo sorrisos a todos os presentes. かわいいです!Era 高橋 瞳 (Hitomi Takahashi), uma famosa cantora de j-pop. Hitomi-chan estrelou o dorama Pretty in Pink Flamingo ao lado do quinteto, no papel de Yuuki-chan, cunhada de Toru-chan. O dorama rendeu um single com três músicas em parceria com o ビークル, além do disco da trilha sonora oficial, com sete faixas. Wo Ai Ni foi a música interpretada pela mocinha no palco, sem deixar de lado os backing vocals obrigatórios de Hidaka-chan, é claro! Oh baby, let me be!

Hitomi Takahashi cantando Wo Ai Ni! 

Assista o PV de Wo Ai Ni!


Após tantas presenças ilustres, era hora de compartilhar o microfone com os outros membros do BECR. Masahiko-chan deixou de lado seu contrabaixo para soltar a voz em Perfect Day. Perfect vocal! Mas Taro-chan não podia ficar de fora da próxima melodia: Dancing Queen! A dançante masterpiece do grupo ABBA se ajusta perfeitamente ao insano Taro-chan que, como sempre, interpretou a música no estilo mais teatral possível. Seu falsete nos primeiros versos da música o fez encarnar a verdadeira rainha dançante durante toda a execução. Atuação digna de um Oscar! ('ω `*)

Quando Taro-chan abandona sua preciosa Fender EVH e a troca por um teclado só pode significar uma coisa: a eletrizante Work It Out vem aí! Só que o hilário e indecifrável "sky is up, higher!" (não sei se é isso, mas é o que eu consigo entender!) que Taro-chan sempre esgoela nos shows - por falta da presença da voz feminina que há na música original -, ficou a cargo de Ely, a verdadeira intérprete da faixa mais techno style do grupo. De braços abertos e vestindo um yukata (um tipo de kimono de verão) amarelo super かわいい (kawaii), a cantora do grupo Bremen também deu sua contribuição em Hit in the USA, um dos maiores sucessos do grupo, graças ao anime BECK, no qual eles dão vida, voz e som à banda Dying Breed(^ ω ^)

Ely e seu kimono amarelo!

Quem disse que rock não se mistura com hip hop deveria ouvir Into the Sky, interpretada por Wise e o quinteto. Ao vivo, esse dueto fica ainda mais harmonioso! É impossível manter pré-conceitos após ouvir essa parceria deliciosa. Wise fazia suas rimas aceleradíssimas enquanto Toru-chan cantava melodicamente ao fundo, sempre mantendo suas posturas dentro de seus respectivos estilos. E a banda toda os seguiu: a guitarra, a bateria, o baixo, estavam todos lá, alinhados com essa união de diferenças. É o melhor exemplo de hip and roll(≧ω≦)

Wise e Hidaka dividem o microfone!

Eis que surgem os primeiros acordes de Fool Groove. Mas já?! Apesar de ser uma música festiva, suuuper para cima e com uma vibe única, ela anuncia o inevitável e triste fim de todo show do Beat Crusaders. Nenhum fã gosta de ouvi-la em um show! Todos os convidados se reúnem no palco, zoam, pulam, correm, dançam, arriscam a cantar alguns versos, improvisam coreografias malucas, fazem as coisas mais sem noção e engraçadas. A energia da banda contagia a todos, é impossível ficar parado nesta festa na qual os sonhos se tornam realidade. ヽ(´▽`)/

Fool Groove!

Como falei na primeira parte desta saga, provavelmente nós éramos os únicos 外国人 (gaikokujin = estrangeiros) de todo o evento. Não encontramos ninguém que aparentasse ser de outra etnia, a não ser a asiática. Os japoneses nos olhavam muito, talvez achando que éramos artistas ou simplesmente um casal gaijin que perdeu a rota para o Fuji-san

Fuji-san! Estava nublado no dia do festival, mas mesmo assim deu para vê-lo um pouquinho! *o*

É fato: não é comum ver estrangeiros perambulando em festivais de bandas japonesas. Essa atenção toda já se tornou bem normal em nossas rotinas. Só de irmos até o supermercado significa que teremos nossos momentos de celebridades, onde recebemos elogios e arrancamos suspiros (falando assim, parece que somos beldades! O Akio com certeza é, mas eu...). Até mesmo no trabalho, já perdemos a conta de quantos colegas verde-amarelos nos disseram pensar que éramos americanos, ainda mais por termos o inglês como segunda língua (mais um assunto que rende um post no blog!). E todo mundo sabe que os japoneses são os maiores admiradores dos norte-americanos! O(≧∇≦)O

Mas a maior vantagem que já tivemos por sermos gaijkokujins no Japão foi despertar a atenção da banda no Japan Jam. Sim! Os integrantes olhavam MUITO para nós, o tempo inteiro! Toru-chan, principalmente! Pareciam mais surpresos conosco do que nós com as caras deles sem máscaras. Claro que muitos fatores contribuíram para deixarmos os caras ainda mais curiosos: nós estávamos colados na grade do show, o lugar mais perto do palco, do lado em que Taro-chan toca guitarra. Além disso, somos beeeem mais altos que a maioria dos japoneses. Eu cantava todas as músicas que tocavam, o que a maioria ali presente não fazia (medo de arriscar um engrish?), mesmo em músicas cantadas em japonês, como Aozora e Wo Ai Ni (que na verdade não sei cantar, mas arrisco!). Porém, o motivo primordial é que eles não devem ver estrangeiros nos shows deles, pois só se apresentam aqui no Japão. Me senti ótima com essa atenção toda dos meus ídolos, é claro! Foi um sonho! Foi すごい (sugoi = incrível, legal, demais)!Acredito que eles também tenham gostado de nos ver lá, afinal, Hit in the USA fala sobre o desejo de serem famosos na América... assistam o PV da música!


O caça-sonhos que fazia parte do cenário do Liberta Stage simbolizou muito bem o show do Beat Crusaders: todas as energias ruins e negativas foram sugadas e desapareceram, sobrando apenas os mais belos e profundos sonhos! (。◕‿‿◕。)

O caça-sonhos! *o*

E é assim que se encerra um show do Beat Crusaders, com muitas brincadeiras, bizarrices e risadas, mas, no fundo, estamos todos tristes por esse espetáculo ter acabado tão rápido... porém felizes por estarmos realizando os nossos maiores sonhos nessa terra tão distante de casa. As músicas da banda fazem parte da soundtrack (trilha sonora) da minha nova vida aqui no arquipélago, por isso elas me trazem tanta alegria, coragem e esperança. Ver esses cinco músicos talentosos e ouvir suas melodias tão especiais e cheias de significados, ao vivo, é uma verdadeira dádiva! ありがとうございます、ヒダカトオル、 カトウタロウ、 クボタマサヒコ、 マシータ と ケイタイモ!

ありがとう 、ビート・クルセイダース!


* antes de começar o show, um funcionário do festival perambulava no meio do pessoal gritando enquanto erguia uma placa na qual alguns katakanas misturados a kanjis diziam que stage dive (o famoso "se jogar no mosh") estava proibido no Japan Jam! Demoramos um pouco até entender o que estava escrito na placa, pois a tradução em katakana para stage dive estava esquisita: ステージ ダイブ (suteeji daibu). Mas o kanji de proibido deixou um pouco mais fácil para descobrirmos (禁止 = kinshi), já que sempre ouvimos falar que no Japão essa prática era proibida na maioria dos shows!



Aproveito o espaço para homenagear o vocalista Toru Hidaka-chan! Hoje, dia 5 de Junho, Toru-chan completa 42 anos de vida, mas com uma aparência de 20 e espírito de 15! Pois é, os japoneses não envelhecem mesmo! Viva o  抹茶 (macha = um tipo de chá verde), o 寿司 (sushi) e o グリーンカレー (green cury = é um tipo de cury que eles ganham de presente no dorama Pretty in Pink Flamingo)! E viva os geminianos! Nós somos os melhores! \(^^)/

お誕生日おめでとうございます、ヒダカちゃん!
(Otanjoubi omedetou gozaimasu = Feliz aniversário, Hidaka-chan!)



Traço agora uma linha do tempo ilustrada com fotos para encerrar a saga Sasquatch. Espero que tenham gostado desta saga tanto quanto eu gostei de escrevê-la a vocês! ^o^

ありがとうございマシータ、皆さん!
(Arigatou gozaimashita, minna-san! = muito obrigada, pessoal!)


8 de maio, 2:00 pm - Os ingressos
Compramos nossos ingressos do festival Japan Jam 2010 pelo site イープラス (E-plus) e pagamos no konbini Seven Eleven, que fica na esquina de casa!


14 de maio, 6:00 pm - Gotemba
Assim que saímos do trabalho, corremos para casa, nos arrumamos e saímos voando em direção ao ponto de ônibus. Fomos à estação de Iwata e de lá, pegamos mais alguns trens até 御殿場市 (Gotemba-shi = cidade de Gotemba). Esse trajeto levou mais de 2 horas!


14 de maio, 11:00 pm - Hotel Senraku
Chegamos ao hotel em que fizemos as reservas dias antes. Capotamos na cama de tanto sono e cansaço da viagem!


15 de maio, 5:00 am - Glorioso Fuji-san
Acordamos bem cedo e fomos de táxi até o circuito. O 富士山 (Fuji-san = Monte Fuji) estava parcialmente visível, mas foi possível contemplar sua enorme beleza!


6:30 am - Fuji Speedway
Chegamos ao circuito muuuuuito cedo, não havia praticamente ninguém.


7:00 am - A espera
Éramos um dos primeiros da fila! Uma hora após, ela ficou do tamanho que mostra a foto acima!


8:00 am - Passagem de som
É possível ouvir, da fila, acordes de músicas conhecidas e Hidaka-chan esgoelando Isolations no microfone! Que vontade de gritar!


9:30 am - Borboletas no estômago
Os portões se abrem e começa a distribuição de wristbands. Corremos em direção ao Liberta Stage, onde aconteceria o show do Beat Crusaders às 11 am. Muita ansiedade!


10:40 am - Preparativos
A staff da banda começa a organizar os instrumentos dos músicos no palco. Ai, que emoção!


10:58 am - Aí vem eles!
O quinteto mais do que fantástico se prepara para invadir o palco! Na foto, Taro-chan e Mashita-chan de costas, prontos para fazer muito barulho! Cum on feel the noize!


11:00 am - SASQUATCH!
As primeiras notas da música de abertura de todo show do Beat Crusaders começam a ecoar no local. O quinteto mascarado aparece no palco e dá início ao espétaculo com Time Flies, Everything Goes!


12:00 pm - Fim!
O tempo nunca passou tão rápido quanto neste dia. Infelizmente acabou, mas foi simplesmente すごい (sugoi = incrível)! Mais um sonho realizado! O melhor show da minha vida! 


1 pm - Bugigangas
Fomos à loja de オフィシャルグッズ (ofisharu guzzu = official goods, produtos oficiais) da banda, mas somente uma camiseta havia sobrado. E era exatamente do meu tamanho! Que sorte!

1:30 pm - Carimbos
Carimbamos em um papel nossa presença no show do Beat Crusaders, no festival Japan Jam 2010! Na verdade, os carimbos eram para serem usados em uma espécie de passaporte que alguns receberam pelo correio quando compraram o ingresso. Nós não recebemos nada pois compramos no konbini.


Para sempre - Memórias
As lembranças deste show incrível ficarão gravadas em minha mente e em meu coração para sempre. Só quem tem um ídolo pode entender este sentimento de realização e extrema felicidade. Esse não é um simples show, no qual se dança conforme o ritmo e se canta cada verso. Ele simboliza tudo aquilo que vim buscar nesta terra tão distante, que hoje eu chamo de lar. As músicas do Beat Crusaders me fazem ser uma pessoa melhor, pois com elas eu consigo sorrir, esquecer dos problemas, me divertir, relaxar, me alegrar, e principalmente, sonhar. Conhecer os compositores da trilha sonora oficial de minha nova vida é uma dádiva! Me considero a pessoa mais feliz do mundo por poder realizar tantos sonhos.  \ (^ o ^) /

No music, no dream!


ありがとう、ジャパンジャム!ありがとうございマシータ、ヒダカ、タロウ、マシータ、ケイタイモとクボタ!

Arigatou, Japan Jam! Arigatou, Hidaka, Taro, Mashita, Keitaimo e Kubota!



Nos encontraremos novamente em Osaka, dia 4 de setembro! (^ - ^) v

Matta, ne! ^_^

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